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OPINIÃO


Thomas Cole, “O Estado Selvagem”


Thomas Cole, “O Estado Pastoral ou Arcadiano”


Thomas Cole, “A Consumação”


Thomas Cole, “Destruição”


Thomas Cole, “Desolação”

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NAZGOL ANSARINIA – OS CONTRASTES E AS CONTRADIÇÕES DA VIDA NA TEERÃO CONTEMPORÂNEA

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TERESA DUARTE MARTINHO

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ARTE, AMOR E CRISE NA LONDRES VITORIANA. O LIVRO ADOECER, DE HÉLIA CORREIA

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ELLIPSE FOUNDATION - NOTAS SOBRE O ART CENTRE

MARCELO FELIX

2006-08-17
BAS JAN ADER, TRINTA ANOS SOBRE O ÚLTIMO TRAJECTO

JORGE DIAS

2006-08-01
UM PERCURSO POR SEGUIR

SÍLVIA GUERRA

2006-07-14
A MOLDURA DO CINEASTA

AIDA CASTRO

2006-06-30
BIO-MUSEU: UMA CONDIÇÃO, NO MÍNIMO, TRIPLOMÓRFICA

COLECTIVO*

2006-06-14
NEM TUDO SÃO ROSEIRAS

LÍGIA AFONSO

2006-05-17
VICTOR PALLA (1922 - 2006)

JOÃO SILVÉRIO

2006-04-12
VIENA, 22 a 26 de Março de 2006


SOBRE A ARTICIDADE (OU OS ARTISTAS DENTRO DA CIDADE)



PEDRO PORTUGAL

2008-05-16




[A propĂłsito dos seminĂĄrios “O MAIS OU O MENOS - O espaço pĂșblico de Cultura nas Autarquias Locais”, dirigido por Jorge Barreto Xavier, que decorre na Fundação de Serralves no Porto. Os encontros sĂŁo dirigidos a: Presidentes de CĂąmara, Vereadores da Cultura, etc., atĂ© aos tĂ©cnicos superiores e cidadĂŁos interessados no processo de fabricação de cultura. O primeiro seminĂĄrio tinha o nome: “POLÍTICAS CULTURAIS AUTÁRQUICAS: A CEREJA EM CIMA DO BOLO?”]

Estå provado que a cidade não é um bolo e a cultura não é uma cereja. A Cultura é a Cidade: Cultura + Cidade = Civilização.

“[Os ataques de 11 de Setembro foram] a maior obra de arte do cosmos, comparado com isso, nĂłs compositores nĂŁo somos nada” afirmou Karlheinz Stockhausen. Bertolt Brecht disse que: “Nada ficarĂĄ das grandes cidades excepto o vento que atravĂ©s delas sopra.”

HĂĄ 2300 anos, PlatĂŁo, na sua utopia “A RepĂșblica”, excluĂ­a os poetas, os artistas e os polĂ­ticos da fundação da cidade. Dizia que, para começar uma cidade, sĂł eram necessĂĄrios 4 homens: o lavrador, o pedreiro, o tecelĂŁo e o sapateiro. Mas: “Portanto, temos de tornar a cidade maior. A que era sĂŁ nĂŁo Ă© bastante, mas temos que a encher de uma multidĂŁo de pessoas, que jĂĄ nĂŁo se encontram na cidade por ser necessĂĄria, como os caçadores de toda a espĂ©cie e imitadores, muitos dos quais sĂŁo os que se ocupam de desenho e cores, muitos outros da arte das Musas, ou seja, os poetas e os seus servidores, rapsodos, actores, coreutas, empresĂĄrios, artĂ­fices que fabriquem todas a espĂ©cie de utensĂ­lios, sobretudo adereços femininos.”

Ao invĂ©s do que pensava, o ultraconservador filĂłsofo grego (veja-se a preferĂȘncia pela arte persa e pelo desprezo dedicado aos seus contemporĂąneos PraxĂ­teles e LĂ­sipo), quando se olha para as pinturas e para a arquitectura do passado o que observamos Ă© que, nas suas diversas manifestaçÔes, Ă© a ARTE que permanece como testemunho das civilizaçÔes e das cidades (as Ășltimas palavras dos grandes homens tambĂ©m fazem parte desse patrimĂłnio mas numa categoria invisĂ­vel).

Thomas Cole, a meio do sĂ©c. XIX, pintou o “O Curso do ImpĂ©rio”. Um conjunto de telas para a sala de jantar da casa do senhor Luman Reed, o rei das mercearias de Nova Iorque. Estas cinco pinturas, “O Estado Selvagem”; “O Estado Pastoral ou Arcadiano”; “A Consumação”; “Destruição” e “Desolação”, completadas em 1846, representavam para o artista o ciclo do aparecimento e declĂ­nio inexorĂĄvel das civilizaçÔes. Em 1829, dias antes de visitar o atelier de Turner em Londres, Cole escreve antes de pintar: “a sĂ©rie de pinturas ilustram a mutação das Coisas Terrestres. O ciclo deve começar com uma selva primordial... as figuras humanas devem ser selvagens... indicando nas suas ocupaçÔes que os meios de subsistĂȘncia sĂŁo a caça. A segunda pintura serĂĄ um amanhecer - um campo parcialmente cultivado... aqui e ali grupos de camponeses nos campos... A terceira pintura deve representar uma cena ao meio dia. Uma cidade esplendorosa com uma montanha de Arquitectura magnificente. Um porto cheio de navios - uma procissĂŁo esplĂȘndida etc. e tal - tudo isso combinado para demonstrar a prosperidade no seu mĂĄximo (riqueza e luxo). A quarta deverĂĄ ser uma batalha tempestuosa e uma cidade a arder - com todas as concomitantes cenas de horror. A quinta deverĂĄ ser um pĂŽr-do-sol - uma cena de ruĂ­nas, montanhas abandonadas, o mar invadindo a terra, templos delapidados, etc. - sarcĂłfagos. Todas as cenas terĂŁo a mesma localização.”

Cole apresenta os 5 parĂąmetros pelos quais se pode, homologamente, classificar a progressĂŁo formal dos objectos artĂ­sticos: o ARCAICO, o CLÁSSICO e o BARROCO (referidos por E. H. Gombrich), que constituem um enquadramento operativo para toda a histĂłria da arte atĂ© ao fim do sĂ©culo XIX. Todos os perĂ­odos artĂ­sticos passaram por metamorfoses cĂ­clicas que vĂŁo de um perĂ­odo (ou estilo) arcaico onde se manifesta a rudeza prĂłpria da experimentação, seguido de um perĂ­odo classicizante de consolidação e aperfeiçoamento e, por fim, a um perĂ­odo exuberante de fim de impĂ©rio. É a festa barroca antes de entrar num novo arcaico - sendo a festa barroca o que chamamos hoje de vanguardas e o novo arcaico as expressĂ”es e cristalizaçÔes conceptuais e pĂșblicas decorrentes dos momentos de revolução formal (ver tambĂ©m G. Kubler). O sĂ©culo XX, por causa da possibilidade de compilar e acumular informação, permite a introdução de duas novas categorias: o MODERNO e o CONTEMPORÂNEO (o pĂłs-moderno Ă© sĂł um barroquismo do moderno e o contemporĂąneo jĂĄ Ă© “remix” ou “mush-up”.

O que Ă© pode ser entĂŁo o mais e o menos no governo da acção cultural de uma cidade — na assunção deste ciclo de ascensĂŁo e colapso?

a) Convidar um “starchitect” (1) para contrariar a decadĂȘncia cultural da sua cidade ou fazer fluir dinamicamente as hordes dos que jĂĄ nĂŁo sĂŁo necessĂĄrios e que vivem na cidade e que fabricam objectos e ilusĂ”es (os referidos artistas e poetas)?

b) Oferecer a possibilidade dos funcionĂĄrios da arte e polĂ­ticos, praticarem um mĂ­nimo de 10.000 horas de meditação de compaixĂŁo (2) e dirigirem bondade e amor aos concidadĂŁos, limitando assim, a previsĂ­vel mediocridade administrativa que Ă© a construção da cidade e a sua inexorĂĄvel “Destrição” e “Desolação”.

Pedro Portugal
Artista PlĂĄstico


NOTAS

(1) HĂĄ um companheirismo entre a ambição de demiurgia grandiosa do arquitecto (que Ă© tambĂ©m a angĂșstia do arquitecto Solness em Ibsen) e as visĂ”es Ă©picas dos tiranos: Versalhes, Hitler e Speer, o PalĂĄcio do Povo de Ceausescu, e a recente associação entre o presidente do KazakistĂŁo e Norman Foster ou Rem Koolhaas e os ĂĄrabes.

(2) A Universidade de Wisconsin-Madison publicou uma investigação, em Março deste ano, sobre como o cultivo da compaixão e bondade através da meditação afecta åreas do cérebro e pode fazer uma pessoa sentir mais empatia pelas outras. Os investigadores usaram um scanner FRI (Functional Magnetic Resonance Imaging) num grupo de monges Tibetanos e concluíram, pela anålise das imagens produzidas, que nos indivíduos com grande pråtica de meditação de compaixão, os circuitos cerebrais usados para detectar emoçÔes e sentimentos são muito diferentes do que nos indivíduos sem este treino.