JOSEP MAYNOU - ENTREVISTA
BEATRIZ COELHO
2018-12-22
Josep Maynou (1980) é um artista plástico espanhol, baseado nos últimos treze anos em Berlim. Formou-se na Universidade de Barcelona, tendo realizado erasmus em Londres e no Porto. Desde então, participou em diversas residências artísticas, entre elas, em Barcelona, Berlim, Nova Iorque, Istambul e Toulon, contando ainda com exposições pela Europa e nos EUA. Em Espanha, é representado pela Galeria Bombon Projects e em Portugal, pela Galeria Lehmann + Silva, onde se encontra patente a sua primeira exposição individual no país, intitulada Populaire, com curadoria de Arielle Bier, visitável até ao dia 29 de dezembro. Do notável percurso de Josep Maynou, abordámos o seu percurso, a sua particular prática multidisciplinar e aquele que é o seu entendimento de arte. Falámos também da importância das experiências processuais e sociais que se escondem por detrás de cada obra e de como se vive bem a fazer o que se gosta.
Por Beatriz Coelho
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B.C. :Josep, a tua prática assenta numa espécie de corpo multidisciplinar que caminha das tapeçarias, esculturas ou objetos, aos desenhos, vídeos e performances. Diferentes propostas que, apesar de parecerem constituir um núcleo heterogéneo, pelas suas curiosas conexões, convergem antes num microuniverso muito próprio, muito teu. Remontando ao ponto de partida do teu trabalho, como se deu este caminho?
J.M.: Eu estudei especificamente Pintura, na Universidade de Barcelona. Queria ser pintor. Com o tempo, fui-me apercebendo que gostava e me interessavam muitas outras coisas e que, de alguma maneira, teria uma maior liberdade fora da Pintura. Até é curioso, porque estou coincidentemente a trabalhar agora numas peças que integram Pintura, mas, na verdade, faço-o de uma maneira muito diferente de como costumava trabalhar no início. O que quero dizer é que estendi-me para lá da Pintura mas nunca descarto a possibilidade de voltar a pintar. Falando propriamente do caminho, não foi um processo rápido, mas sim com muita tentativa / erro. Ainda assim, posso dizer que me sinto muito bem por ter encontrado uma forma de trabalhar que é a que me sinto mais cómodo, desfrutando em simultâneo dessa variedade de disciplinas.
B.C. De um modo geral, podemos dizer que a maioria das tuas propostas são como diferentes formas de contar histórias deste tempo, reais ou imaginárias, tendencialmente sintomáticas (pela constatação e apresentação de aspetos que muito se referem ao ser humano atual) e com um frequente travo humorístico. Começando pelas propostas performativas: como é que se desenvolve este formato?
J.M. As performances que faço são essencialmente a contar histórias, num formato que se aproxima do stand up, mas bastante mais desorganizado, menos preciso e normalmente sem punch line. Este formato mantém-se desde o início: conto uma história atrás de outra, por vezes utilizo música para as complementar e, em alguns casos, as próprias histórias transformam-se em canções. Não me interessa a ideia de ensaiar, levo apenas um set-list com as músicas e o nome das histórias para não me esquecer. Gosto de ter um microfone e poder conectá-lo ao telemóvel para tocar as músicas ou então faço-as eu mesmo ao vivo, através de apps. Há também os casos de performances acapella, quando não há sistema de som nem microfone. Será também importante referir que, muitas vezes, são as peças em exposição que ativam as histórias, e, nesse caso, nem necessito de um set-list. Foi o que aconteceu na exposição Populaire, no Porto, com uma peça que é uma fonte de água que contém imensas histórias pintadas à mão sobre azulejos. Na prática, estas performances caracterizam-se por um formato muito simples, flexível e natural, permitindo-me sempre adaptar às circunstâncias.
Quanto às histórias propriamente ditas, e apesar de muito variadas, estas acabam por ter temáticas comuns: de arte, amizade, amor, até histórias de zombies e ninjas. Muitas destas histórias são minis guiões de filmes inventados por mim e, aqui, entra uma componente de trabalho que é a de criar os posters destes filmes (filmes que na realidade não existem). São posters pintados à mão por artistas cujo trabalho me interessa e que vou encontrando pelo mundo. Convido-os para uma refeição e conto-lhes o filme - se a proposta os interessar, então contrato-os para que me façam o poster. O poster que se encontra na exposição Populaire, foi feito em colaboração com um artista e amigo português, o José Almeida Pereira. Motoboy é o nome deste filme e conta a história de um rapaz que vive no bairro das Fontainhas e que, após ganhar uma mota numa feira popular, começa a ajudar os idosos do bairro carregando as suas compras e levando-os a dar passeios de mota, junto ao mar. É uma história sobre humildade e partilha. Algum dia, farei uma exposição com todos estes posters e espero que algum produtor seja suficientemente louco para me oferecer fazer um destes filmes. Adoraria poder fazê-lo.
B.C. As diferentes peças que normalmente vemos em exposição, muitas delas servindo de base para as tuas performances, como é o caso da fonte de água que acabaste de referir ou até mesmo as tapeçarias (de que falaremos mais à frente), integram também elementos que parecem fruto de uma especial atenção pelo detalhe, pelas experiências do acaso, pelo gesto e pela linguagem atual. Refiro-me a símbolos, expressões e grafismos que se parecem inserir numa plataforma de comunicação transversal e intercultural e que, consequentemente, acabam por definir o ser humano contemporâneo. Estes elementos aos quais recorres frequentemente, para lá da sua primeira impressão meio cômica e divertida, permitem também outro tipo de implicações...
J.M. Como referiste anteriormente, contar histórias é um fio condutor do meu trabalho, das diferentes práticas que o meu trabalho ocupa. Ideias, associações entre diferentes mundos e personagens, momentos autobiográficos misturados com ficção... Existem sempre histórias por detrás dessas expressões.
No caso do thumbs up, esse é um símbolo que todo o mundo reconhece e inicialmente comecei por utilizá-lo no facebook como foto de perfil. Parecia-me divertido porque quando colocava um like, este passava a uma espécie de double like. O humor enquanto criador de piadas é algo que sempre me interessou, é uma das grandes fortalezas do ser humano. Neste caso, é um misto de positivismo barato mas eficaz e também uma declaração de boas intenções. Para além disso, é um símbolo que remete para um tipo de linguagem simples, direta e popular, permitindo-me jogar com ele. A qualquer momento, poderia subverter o assunto e utilizá-lo de outra forma, começando a brincar com um thumbs down, por exemplo. Lembro-me de como nos filmes de gladiadores, César utilizava este simples gesto para revelar a sua decisão em relação ao destino dos gladiadores no final do espetáculo. Um gesto que apesar de simples, revelava-se poderosíssimo na época. Hoje em dia, estes símbolos e este tipo de linguagem vivem num contexto totalmente diferente e o avanço das tecnologias, como o aparecimento de telemóveis por exemplo, abriu imensas possibilidades e permitiu este tipo de comunicação, inclusive passou até a estimular uma espécie de combinações, como a construção de uma espécie de hieróglifos egípcios.
Outro exemplo é o dos captchas, um mecanismo de comunicação para perceber se é um humano que está por detrás do ecrã e que, de cada vez que me aparecem, arquivo-os com um print screen. Fascinam-me as mensagens e os quebra-cabeças que aparecem sempre de forma random e que realmente nos falam, nos dizem coisas - podendo aqui encontrar uma relação com o momento em que vivemos. Também tenho uma história sobre isto: é a de uma personagem que toma decisões na sua vida a partir dos captchas que lhe aparece, como alguém que segue o horóscopo, por exemplo.
Entre muitos outros casos posso falar-te também do “hahahaha” presente em algumas peças, que, na realidade, começa com “ahahahah” e logo se converte em “hahahaha”. Nasce de outra história, onde o protagonista faz um golpe no joelho com uma mesinha em frente ao sofá. Ele está de ressaca e, ao magoar-se, começa a queixar-se de dor: “ahh ahh ahh!”. Pouco a pouco transforma-se num “hahahahahahhaha!!”, como uma estratégia de lidar com a própria dor. Claro que esta história e todas as outras são exemplos que abordo nas performances, e que, pelo seu caráter/ formato, têm um resultado muito diferente do que simplesmente descrito. Mas isto para dizer que, realmente, contar histórias faz parte daquilo que faço e muitas vezes, as peças expositivas têm a função de arquivo, de sketch, de fragmento para não me esquecer da história.
B.C. Centrando então nas tapeçarias, que me despertam grande curiosidade: sei que estas peças são criadas por ti em aldeias rurais marroquinas, fruto de intensas viagens e de um profundo processo de aprendizagem e de trabalho conjunto com tecelãs, detentoras de técnicas seculares de tapeçaria. Cada peça que trazes para a Europa carrega consigo uma riquíssima experiência de relações humanas, de entrega e de partilha de conhecimento, resultado de um demorado trabalho...
J.M. Há muitas camadas acerca da criação das tapeçarias... é um projeto com comunidades berberes e que surgiu de uma forma inesperada, revelando-se uma grande experiência. Para começar, posso dizer-te que eu tinha um tapete na minha habitação de quando era criança e era nele que eu desenhava, lia, estudava... Eu adorava aquele tapete, era como uma ilha dentro da casa - um espaço reservado para a criatividade, para a imaginação - um espaço para onde me podia atirar, brincar ou dormir.
A ideia de criar tapeçarias surgiu por casualidade, através de uma viagem que fiz a Marrocos, em 2012. Na verdade, fui numa viagem de surf, mas durante uma semana em que não havia previsão de ondas, eu e um amigo decidimos fazer uma viagem pelo atlas, onde tive a oportunidade de ver e conhecer cooperativas, lojas e mercados com uma enorme variedade de tapeçarias. Foi ali que comecei a pensar na possibilidade de criar umas peças utilizando esse formato - pela sua associação e relação ao ato de contar histórias. Percebi que esta forma de arquivar, nas tapeçarias, todas as ideias que apresentava nas performances, fazia muito sentido, como um objeto que atravessa gerações, que é utilizado e que envelhece com o rasto das pessoas que convivem com ele. Depois desta viagem terminada, a ideia permaneceu e, passado cerca de um ano e meio, decidi lá voltar com a intenção de tentar materializar esta ideia. Desta vez, claro, com mais pesquisa de antemão, acabei numa região onde se trabalha muito com roupa usada misturada com lã nos tapetes, numa técnica chamada boucherouite. Interessou-me tentar criar estas peças que são tecidas com roupa minha, roupa de amigos meus, roupa encontrada (e que acaba assim por adquirir um valor extra, existindo também uma história por detrás de cada peça de roupa). Foi nesta viagem que encontrei e conheci uma comunidade na região de Azilal e desde então que trabalho com eles. Inicialmente, o objetivo passava por aprender a tecer, para poder fazer eu mesmo as tapeçarias. Aprendi então as bases técnicas e, com o passar do tempo, fui-me apercebendo que as famílias que vivem nestas comunidades, queriam e realmente precisavam de trabalho. Foi assim que construímos um intercâmbio: eu aprendi a técnica e executo, apesar das mulheres destas famílias me ajudarem com grande parte do trabalho (elas riem-se de mim de cada vez que começo a tecer, porque sou sempre muito lento).
Bem, ao longo destes cinco anos de trabalho conjunto com a comunidade, dou conta que as tapeçarias são aquilo que, fisicamente, perdura - aquilo que ainda se pode tocar. Mas o verdadeiramente incrível deste projeto é a experiência, todos os momentos que passamos juntos e a amizade que criamos. Sem ele, eu nunca teria tido a possibilidade de chegar a estar tão próximo e fazer parte de uma comunidade e de um povo tão rural, em pleno atlas marroquino.
B.C. É curioso pensar na dualidade que estas tapeçarias integram: envolvem uma técnica secular, geracional, de lenta aprendizagem e entrega, relativamente a um assunto que tantas vezes manifesta relatos curtos e imediatos, grafismos instantâneos. É uma relação quase antagónica, não?
J.M. É interessante o que dizes desta relação, quase como antagónica, sim. É verdade que tudo passa de um modo instantâneo hoje em dia, e pelo contrário, estas tapeçarias levam, literalmente, tempo. É bonito pensar que eles te obrigam a parar, a ter paciência e a desfrutar do processo. Quando estou em Marrocos, fico encantado com esta questão do tempo - o ritmo é mais tranquilo, tudo se passa mais devagar - não tanto nas cidades, mas mais no povo. De repente, conectas de novo com a Natureza. Há dias, lá, que parece que entras noutro estado. É exatamente por isto que acho que estas peças se devem criar ali, que mantenham a alma daquele lugar. Existem tarefas neste processo que vou fazendo sempre, mesmo fora de Marrocos, como encontrar roupa por exemplo. Há peças que viajam da Europa para África e de África para a Europa, de novo. Até a roupa que eu uso acaba por ter, muitas vezes, a cor perfeita e que falta para terminar uma tapeçaria, então acabo por utilizá-la. É como uma parte de mim que entra para a peça. Falando nisto, o momento de preparar a roupa com as tecelãs também é muito interessante: sentámo-nos, às vezes com uma vizinha que por lá anda, e ali ficamos a cortar a roupa enquanto bebemos chá... fascina-me sempre.
B.C. Para além das diferentes práticas que temos vindo a falar até aqui, gostava ainda de introduzir os vídeos, que parecem integrar uma espécie de montagens objetuais e que tantas vezes podemos vê-los no teu instagram.
J.M. Trabalho de formas distintas com o vídeo, mas digamos que nos últimos três anos comecei a fazer estes vídeos, ativando objetos e o espaço que tenho à minha volta. Funcionam quase como um diário de viagem, embora o faça sempre. Têm sido anos muito nómadas e ter um estúdio fixo não era algo fácil. Com estas peças de vídeo consigo trabalhar onde me encontro, com o que tenho e, em simultâneo, estímulo outra forma de fazer arte e abro a minha prática de um modo muito livre. Nunca consegui ter a consistência para fazer um diário antes e, com o instagram, passou a ser uma maneira de fazê-lo, tornando-se assim um arquivo daquilo que vou fazendo e permitindo-me localizar tudo. Surgiram quando estava sozinho e aborrecido numa habitação em Marrocos. Ao princípio não lhes dei muita importância e eram apenas um divertimento, mas pouco a pouco percebi que poderia ser um formato interessante: um exercício com objetos e espaços, invenções, esculturas em movimento, ações que capturam espaços, objetos e sons de uma maneira muito particular. São peças que fazem muito sentido, porque eu e o meu avô costumávamos inventar jogos que, de certo modo, acabam por se aproximar destes vídeos. Eram muito mais simples, claro, mas existe uma relação direta com as lembranças que tenho de atirarmos pedras tentando acertar em alvos, enquanto passávamos horas a jogar e a conversar.
B.C. És, como se tem percebido, um exemplo de quem tem vindo a criar um caminho muito próprio no panorama artístico atual. Como é que tens conseguido te afirmar, num sistema que tantas vezes parece optar por categorizar e restringir, mantendo-te sempre fiel ao teu projeto artístico?
J.M. Isto é uma corrida de longa distância. Pouco a pouco, passo a passo, se trabalhares e aproveitares o processo, creio que as oportunidades acabam por surgir. E surgindo, há que tentar aproveitá-las. Com o tempo, muitas das coisas que fui fazendo e ideias que pareciam muito distantes, foram aproximando-se, unificando-se e tomando mais sentido. Agora, todas as minhas práticas funcionam isoladas e podem também dançar em conjunto, na mesma festa. Cada exposição é uma oportunidade para consolidar coisas que fazem parte de um todo, especialmente nas individuais, que são as que te fazem crescer mais. É ótimo ter um espaço apenas para ti e poderes desenvolver o que te apetecer. Ao mesmo tempo, é quase como um quebra-cabeças. É uma grande oportunidade para organizares uma série de trabalhos à tua maneira. Quanto a manter-me fiel ao meu projeto artístico, ajudou-me muito o facto de ir trabalhar para Marrocos, longe de tudo e sem qualquer contexto artístico à minha volta (e do qual antes, em Berlim, estava muito acostumado). Parece que me centrei mais na essência das coisas que estava a fazer e deixei-me levar por instinto. Olhei mais para dentro.
B.C. E qual o balanço da tua permanência em Berlim?
J.M. Creio que Berlim foi muito importante para mim, tem sido o meu laboratório todos estes anos. Não apenas a cidade em si, que é desde logo muito atípica, mas também as pessoas que lá vivem, os meus amigos artistas. Há muita gente a fazer coisas lá, e essa criatividade respira-se, estimula e faz-te também fazer coisas. Agora, acabo de me mudar para Paris. Uma nova etapa, uma cidade totalmente diferente, quase oposta. Mudei-me por amor, não tanto pela cidade, mas acho que será uma experiência muito boa depois de treze anos em Berlim. Até porque Paris é uma cidade que valoriza muito a arte e a cultura também, e uma cidade também de referência na moda. Estou certo que esta mudança irá trazer novas nuances ao meu trabalho, de forma natural. Já tenho projetos entre mãos que não teriam nascido da mesma maneira em Berlim. Vamos ver o que acontece...
B.C. Por fim, e trazendo a ideia de arte e vida ou, arte como vida (Allan Kaprow). Para um artista plástico, todo o tempo é tempo de trabalho, tempo de absorção?
J.M. A experiência é para mim, e cada vez, mais importante. Gosto de pensar no meu trabalho como um desenvolvimento da arte de viver, por isso procuro fazer arte que me faça desfrutar, que me faça viver intensamente, que, de alguma maneira, faça a minha vida vibrar mais. Então, neste sentido, arte e vida têm um relacionamento direto, vão de mãos dadas. Procuro na arte soluções criativas para saber viver melhor. Até no caso dos vídeos, para além de diário, eles funcionam como um warm up para não perder músculo no processo criativo: enquanto faço esses vídeos caseiros, aparecem caminhos inesperados e abrem-se possibilidades que me levam a outras ideias e peças. E ao fazeres este tipo de trabalhos entras num estado diferente, como uma prática que te coloca e mantém no momento presente. Este é um estado difícil de atingir e de permanecer, porque a cabeça passa para o passado e para o futuro muito rapidamente. Agora recordo-me de um professor que tive na Universidade, que falava da obra de Richard Long e nos contava como, antes de fazer aquelas incríveis peças de land art, ele caminhava durante dias e dias e o seu corpo e mente entravam num estado diferente, e era exatamente a partir desse momento que começava a construir e a compor as peças. A arte é uma maneira de jogar e entender o mundo através dele. Creio que essas questões de Allan Kaprow, as ideias de arte e vida, realidade e ficção, os happenings, foram muito importantes no seu momento. Às vezes, quando estou em Marrocos a trabalhar com a comunidade num ambiente tão diferente do da Europa, tenho umas experiências que são inexplicáveis, momentos que creio serem puramente arte - a essência daquilo que estou à procura. E nada têm que ver com o produto final da obra. São apenas piscares, flashes, partes do processo, são essa mescla de mundos. Momentos em que, de repente, tudo tem sentido. E dizes: “joder, eso es!” São momentos que ninguém vai ver nas obras, mas que estão ali. Estão dentro de mim e daquelas pessoas. Adoraria que me perguntassem mais sobre estes momentos... é por isso que acabo por utilizar as peças de maneiras tão distintas, formando parte de um set design que me ajuda a contar as histórias. Quero fazer arte que faça a minha vida mais interessante, que lhe dê um sentido e que ajude as pessoas em diferentes níveis. Que apareça como essas brisas que quando as sentes, dizes: “Oh que brisa buena!”
Por isto, todo o tempo enquanto tempo de trabalho, bem, todo o tempo é tempo de vida e, se fazemos o que gostamos, não considero isso trabalho. Ou então podemos até considerá-lo, mas então é trabalho bom. Mas não há, para mim, horário na criação - é antes um estado. E viver neste estado criativo é fantástico.
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Josep Maynou (Barcelona, 1980) vive e trabalha entre Berlim e Paris.
Estudou Belas Artes na Universitat de Barcelona, Faculdade de Belas Artes do Porto e na Middlesex University de Londres.
As suas exposições individuais mais recentes incluem: Leisure (Bombon Projects, Barcelona, 2017); Thing 1, Thing 2 (Broken Dimanche, Berlim, 2017); Things: To do (Beverly’s, Nova York, 2017) ou The Ninja from Marrackech (Galerie Suvi Lehtinen, Berlim, 2015).
Apresentou o seu trabalho em diversas exposições coletivas tais como: Hunter of Worlds (Curadoria de Elise Lammer, SALTS, Birsfelden, Suíça, 2018); My body doesn’t like summer (Haverkampf Gallery, Berlim, 2018); Alpina Huus II. House of Deep Transformation in 12 acts. (Le Commun, Genebra, 2017); How to do things... (Curadoria de Juan Luís Toboso, Lehmann + Silva, Porto, 2017); The inclination of the angle (Junefirst Gallery, Berlim, 2015) ou Black Garden (Galería Louis 21, Palma de Malhorca, 2018); e nas feiras de arte CODE, Copenhague; Arco Lisboa e Sunday, em Londres.
Das suas performances mais recentes destacam-se: Pane Per Poveri (Laatrac, 14th Documenta, Atenas 2017), Making Public Program (Fundació Tapies, Barcelona, 2017) e Material Art Fair (Cidade do México, 2016).
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